Ponto de saturação

Uma vez um amigo meu disse uma frase que marcou. Acho que foi mesmo só uma vez, quando saíamos de um bar lotado, a que ele não queria ir. Foi numa situação em que claramente cedeu à vontade do grupo, embora consciente. Então disse “Eu estou a atingir o meu ponto de saturação e estou prestes a explodir!”. Esta ideia vem com frequência à minha cabeça, penso nisto de forma literal, como se depois da explosão fosse preciso limpar-me das paredes e tetos, qual pega-monstro.
Este é o ponto em que me encontro quando o tema é ficar em casa. Sim, eu sei que muito mais se pediu a outras gerações, que a casa é quentinha, que temos internet, que tudo isso… mas nada me afasta do meu ponto de explosão. Senhores eu estou em casa, com pequenas pausas, desde Dezembro de 2019.
Já dei a volta às séries, ao sofá, à cama, aos filmes, já cozinhei muito, já comi mais do que devia, já fiz o Natal 2019 e o de 2020 pela internet, e também fiz o aniversário 2020 nas mesmas condições, já jantei pelo Skype, tive reuniões várias pelo zoom e muito mais. Continuo a achar tudo isso uma treta que sabe a pouco, mas é o possível. Eu aguento-me, terei de me aguentar, tal como vocês e sabem porquê, porque não temos opção válida. Ou seja não há um outro caminho que seja sequer hipoteticamente melhor.
Quando, e são muitas vezes, estou perto do tal ponto de saturação, lembro-me de uma outra metáfora. Nesta é como se estivéssemos dentro de uma manilha mergulhada no lodo com poucos centímetros para respirar. Já estamos com o nosso corpo todo preso na manilha e nada nos resta senão andar para a frente, recuar é ainda mais difícil e por isso não constitui opção.
Não será o pior dos momentos, acredito no poder das leis de murphy e digo-o de sorriso no rosto.