Planeemos porque a felicidade são os outros

De repente tudo muda, num ápice nada do que antes era certo agora o é. Geralmente isto acontece na vida de cada um, com coisas boas e más que surgem sem previsão, mas não como agora na vida de todos em simultâneo.
Para lidar com a incerteza há muitas estratégias, uma delas pode ser ter projetos, desde a mais pequena coisa à mais complexa.
Eu acredito em planos e tenho como mote pessoal a ideia de ter sempre dezenas de coisas que quero fazer, é verdade que muitas não se realizam. Pode-se dizer que a maioria fica pelo caminho, no entanto como o número inicial de propostas é grande há muitas que se concretizam.
É olhar à nossa volta, analisar os limites e dentro deles tecer todas as hipóteses que nos podem trazer felicidade, satisfação e força. Nem sempre è fácil, mas é também um caminho, um processo.
Não sei nada sobre pandemias, nada sobre covid-19 e nada de mais sobre confinamento ou prevenção, mas sei que preciso de pessoas e que desde há muito o meu lema pessoal é a FELICIDADE SÃO OS OUTROS.
Sem o outro eu não faço sentido e ter planos pode colocar esses tantos outros, tão determinantemente importantes para mim, num horizonte temporal longínquo mas existente.
Ontem vi parte da minha família, não nos víamos desde dezembro, sim dezembro, e desde aí muita coisa mudou e não foi só no mundo foi em nós também. Percebemos que tínhamos mais força do que pensávamos, que somos muito capazes, e sobretudo que podemos fazer muito com o que temos, muito mais do que fazíamos. Para isso precisámos deixar de lado os telemóveis e centrar no que podemos fazer com o que temos.
Lembrei-me do poema de Alegre sobre o que é possível fazer, e sem tornar cor-de-rosa o que se vive agora, porque preciso pensar que sempre que se fecham muitas portas se descobrem janelas que nunca vistas.
LETRA PARA UM HINO
É possível falar sem um nó na garganta
é possível amar sem que venham proibir
é possível correr sem que seja fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.
É possível andar sem olhar para o chão
é possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer não grita comigo: não.
É possível viver de outro modo. É
possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.
Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.
Manuel Alegre
Sem perder o fio condutor, nos momentos mais negros oiço a voz de José Hermano Saraiva sobre as crises: “Enquanto houver, serra de Sintra, noites de luar e o tejo a correr para o mar, há esperança!”, e reavalio o que penso e sinto,