O efeito do tempo

Desde há algum tempo que venho sentido os efeitos do tempo. Não estou a falar só de rugas, cabelos brancos e celulite, que também tenho. Não estou a falar só de dores aqui e ali, de acordar enrugado, e desenrugar lentamente, de achar que mal agosto acaba é natal. Não estou a falar só de já ter visto onde é que muitas coisas vão dar, de sentir o fim de festa à distância e de ficar com comida nos dentes.
Falo de um cansaço de Gandalf do Senhor dos Anéis, de quem já viu mil marés, mas que acima de tudo sabe que adivinhar é difícil, mas mudar o curso dos acontecimentos é uma tarefa hérculea.
Por outro lado, com esta velhice vem uma relativização das coisas que é fabulosa. Os agora-ou-nunca perdem força. Tomam conta da nossa vida os vamos-fazendo, empurramos se a coisa não for, numa responsabilização por tudo o que o que não seguir o rumo que nós queremos. Somos nós que governamos a máquina, e que decidimos o caminho a seguir sem qualquer crença no destino, embora seja preciso não ter azar.
Há que diga que após este relativo péssimismo somos tomados pelo otimismo dos 50, assim o desejo. Ainda não há sinais.
Este já está, venham mais aniversários.