Mulheres

Se há coisa que me define é ser feminista dos quatro costados. Não resulta de uma escolha, nem é uma coisa consciente. Sempre o fui, mesmo antes de saber que o era.
Ser feminista, pode ser coisa vaga em tempos de cancelamento, mas concretiza-se na ideia de igualdade de oportunidades. Concretiza-se na promessa que fiz mim mesma de que nunca, nunca mesmo, ia esperar em casa que uma máquina de lavar roupa terminasse para eficazmente e a perceito estender.
Até ter chegado à arbitragem de ciclismo, antes dos vinte anos, sonhava ser na plenitude uma mulher mulher com hobbies interesses e sonhos que não cavalgam ondas de vida doméstica, nem de espaço do lar. Antes do ciclismo digo que sonhava, porque era uma coisa que achava possível mas que não era pálpavel. Eu nunca tinha visto, convivido ou estado perante alguém assim.
As mulheres que conhecia decidiam, trabalhavam mas havia sempre um amargo de boca, um peso, um ter que. Um pedir autorização implícito a tudo e a todos, e sobretudo a elas próprias, não se deixavam voar.
A Neusa Santos, a Isabel Fernandes e a Paula Martins não eram assim. Não eram mesmo. E foi uma revolução mental que me moldou até hoje. Não agarro o que não é meu. Não me fico e sobretudo não me boicoto.
Lembro-me muitas vezes de me querer beliscar quando a Isabel Fernandes me contou que tinha ido à Sibéria, com uma amiga ao casamento de um ciclista. Porque era um amigo e a convidou, sem mais.
Este texto é uma declaração de amor pública, o mundo é nosso!