Lápis Azul

Suspender direitos, liberdade e garantias é uma coisa muito abrangente. A democracia não pode esperar, nem devemos deixar que nos coloquem na cabeça a ideia de que é preciso escolher entre ser livre e estar seguro, porque na história não faltam exemplos de que essa não é uma dualidade que nos leve a bom porto.
Tenho cada vez mais medo do que se faz em nome do combate à pandemia. Há noticias que me levam para um estado de espanto. Ontem (12-2-2021) saiu no Diário económico que foi aprovado um d-lei que permite às operadoras limitar os serviços de telecomunicações ao essencial, leia-se ao trabalho em detrimento do lazer. Ainda que haja na mensagem alguma especulação, só a ideia estar em cima da mesa essa escolha me dá receio.
Não foi há muito tempo que os meus avós lutaram pelas 8 horas de trabalho, sim, até há duas gerações eram 12. Nesta luta um dos argumentos dos patrões era que se trabalhavam 8, dormiam 8 o que faziam os homens e mulheres nas outras 8 horas?!? Ócio, esse inimigo dos poderes instalados. Esse tempo para ser e para pensar assustava-os. Estamos quase lá. Já não há saídas, compra de livros, e deixará agora de haver espaço digital para o ócio. Sugiro a leitura do Levantado do Chão, de José Saramago sobre as 8 horas, o poder do povo e a liberdade.
Exijo o direito a um ócio de qualidade donde possa resultar bem estar para lidar com todas as adversidades da pandemia! Quem tem os meios que crie as condições para que não se tenha de fazer escolhas sem sentido.