Gripalhada

A gripe apanhou-me pelo pescoço e no que me estou a tentar desenvencilhar, às secas, porque a televisão presta a pior das companhias num mundo que dramatiza tudo.

O mundo parece o jogo de futebol espanhol em que a única resposta à saudação nazi é a Grândola vila morena. Verdade seja dita que muito caminho já se andou desde que estas duas formas de ser e de estar definiam a vida de quem as defendia. Parecem ser agora meros atos de loucura temporária. Afinal ninguém pensa dois segundos sequer sobre o Nazismo e sobre o Comunismo.

Como eu ia a contar, estava mergulhada entre aspirinas e lenços, muitos lenços, e vejo na televisão um programa sobre um poeta português de nascimento e moçambicano de escolha. Sebastião Alba. Paro.

Um poeta que defendeu ideias, deu-se mal, fez más escolhas, e morreu sem nada porque assim quis. Fiquei a pensar se hoje, quase 20 anos depois da sua morte, há espaço para estas pessoas. Talvéz não, precisamos colar-lhes à pressa rótulos, arrumá-las, incitá-las a ser parte. Mas a ser exatamente parte do quê?!? O irmão falou com ternura de Sebastião e da sua errância.

Não é possível viver de acordo com um folha de excel e fazer poemas assim. Não é possível extremar sem pensar e escrever assim.

NINGUÉM MEU AMOR

Ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-lo a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
Mas ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam
vendando-nos os olhos.

Sebastião Alba