Eleições 2025/1.ª Parte

A pergunta que fica no ar é – Como vamos aguentar as eleições que faltam?

Acabaram dias e dias de esmiuçar, falar de cor, comentar e dar opiniões em verboreia sobre esta fase. Só não vi o emplastro a comentar, de resto todas as figuras públicas que me ocorrem já deram a sua opinião política, fundamentada devidamente no acho que! Outras fases virão, em que toda a gente sente que tem que ter lugar de fala. Mas não é um lugar de empenho e mudança é um lugar de larachas! Defendo o direito

Pergunto-me se mereço esta comunicação social e este ministério público? Afinal, são quem nos governa desde há muito. Pensemos em todas as questões que foram levantadas, os fumos sem fogo, as máculas na vida privada, os favorezinhos, os empréstimos dos amigos, o dinheiro guardado no gabinete, as consultorias.

Não sei como farei. Não sei mesmo. Para já só penso no paradoxo da tolerância e de como eu que nunca na vida senti que precisava de me envolver politicamente, agora o sinto. As coisas podem não estar bem, mas há muitos degraus para descer. Muitos!

Eu conheço um pouco de história, da do meu país, mas sobretudo da história da família. Não posso deixar de pensar na minha avó, uma feminista dos quatro costados que me ensinou desde sempre que não haverá homem nenhum a decidir por mim. Como uma promessa! Uma promessa dos que não acreditam.

Não posso deixar de pensar no meu pai que foi buscar o irmão ao barco, vindo do ultramar. Foi com umas laranjas espetadas num pau para se encontrarem num mar de gente. O meu pai que não foi à Guerra porque se cumpriu a promessa de: Nem mais um soldado para as colónias! Tinha 20 naos e o mundo pela frente.

Não posso deixar de pensar no meu tio que ouvia à noite a rádio-Moscovo debaixo das mantas, num monte perto da nascente do rio Mira. De dia cuidava de cabras depois de vários quilómetros percorridos para ir e voltar da escola primária. O meu tio de quem cresci a ver o álbum da tropa. Nome fofinho para comissão em Angola, na Guerra a matar turras.

Não posso deixar de pensar em tudo o que nos trouxe até aqui. Nem ignorar o que agora vejo. Com a certeza que não há soluções simples para problemas complexos. A rapidez dos dias turva o pensamento.

A Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu país
E o vento cala a desgraça
O vento nada me diz.
O vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
Tanto sonho à flor das águas
E os rios não me sossegam
Levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
Ai rios do meu país
Minha pátria à flor das águas
Para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
Pede notícias e diz
Ao trevo de quatro folhas
Que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
Por que vai de olhos no chão.
Silêncio — é tudo o que tem
Quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
Direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
Vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
Ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
Nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
Dos rios que vão pró mar
Como quem ama a viagem
Mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(Minha pátria à flor das águas)
Vi minha pátria florir
(Verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
E fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
Nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
Só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à Beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
Se notícias vou pedindo
Nas mãos vazias do povo
Vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
Dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
E o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
Liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
Aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
Dentro da própria desgraça
Há sempre alguém que semeia
Canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
Em tempo de servidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre