Caridade, é pelo outro ou só por mim?

Obras de Misericórdia – 1600-1650
Museu de Arte Antiga de Lisboa
Nunca foi tão importante ajudar e nunca houve necessidade de questionar tanto porque se ajuda.
Quando nos apercebemos ” Da necessidade da existência dos pobres para se alcançar o reino dos céus (p.40, O Delfim, José Cardoso Pires)”, todas as formas de ajuda remetem para reflexões e deixam de ser a preto e branco. A bondade pode afinal ser questionada e ter um lado negro.
Será a caridade um elemento estabilizador na relação com Deus para os crentes e na relação com o equilíbrio e a felicidade para os outros? Será essa necessidade que leva as sociedades a cair na tentação de perpetuar a pobreza e como consequência a ajuda aos pobres.
Para ajudar alguém de forma efectiva, antes de mais, há que ter no outro um igual em direitos e deveres. Apoiar alguém é promover a pessoa, não promover-me na ajuda à pessoa. Quando esta ajuda é profissional pensamos também na coesão social e nos ciclos de reprodução intergeracional de ajuda. A maior parte da pessoas tem relutância em aceitar que ajudar profissionalmente é completamente diferente de ajudar por carolice. A ajuda de coração, a tal que pode resvalar rapidamente para a caridade, tem em conta o aqui e agora e relações de compensação mútuas, no caso dos profissionais a acção preocupa-se com sustentabilidade do que é conseguido e sobretudo com apropriação do ajudado de todas as conquistas como suas. Aqui o que ajuda fá-lo sem esperar nada em troca, nada que não o respeito do outro e o sucesso profissional.
O objetivo é que a apropriação de conquistas promova a dignidade da pessoa em situação de vulnerabilidade num primeiro plano. Outra parte do trabalho dos profissionais no apoio social é criar mudança social que leve a que as pessoas não caiam neste tipo de necessidades. São exemplos disso uma seguraça social forte, um bom apoio no emprego, famílias capazes de se valer na necessidade, rede social de apoio.
Ajudar implica questionar os objetivos que temos com o que fazemos e pensar que as coisas podem começar com um simples estender de mão, mas não devem terminar assim. É importante que desse primeiro momento saia a solução a médio prazo e ela tem sempre que ser construída pelo que vive a necessidade e que terá que construir o seu caminho.