A Transformação – Franz Kafka

Nota 9 (de 1 a 10)

Já tinha ouvido falar deste conhecídissimo livro, o que elevava expectativas, mas estas mais do que correspondidas foram superadas.

Foi uma leitura de um trago só, como quem bebe um copo de água fresca num dia quente. O texto é simples, mas abre caminho a muitas reflexões.

Descreve a história de um jovem muito focado no trabalho, não porque goste dele, mas porque ser excelente no que faz o ajuda a sentir que corresponde às elevadas expectativas da família. Não serão as expectativas que a família tem a seu respeito, mas as expectativas que o jovem pensa que a família tem a seu respeito. Num caso de auto-boicote.

No início da obra Gregor, assim se chama, sente o mundo às costas e descreve como muito frágeis os membros da família. É ele o guardião e salvador dos mesmos. Seja porque a irmã é nova, porque a mãe é uma senhora ou porque o pai, já idoso, se sente frustrado e incapaz de sair da situação de pós falência e endividamento.

Descobre a pouco e pouco, enquanto está fechado no corpo de barata em que se transformou (estamos sempre reféns do nosso corpo), que todos escondem competências e proatividade nunca vistas e que além da família o sobrecarregar, também a sua postura de salvador limita as iniciativas familiares.

Será a família isso mesmo, uma teia infinitamente cruzada de limitações? cujo resultado é o crescimento máximo do todo com limitações para cada um do indivíduos que lhe pertencem.

Acabei o livro com a ideia na cabeça, de que ninguém é insubstituível. Esta ideia popular e conhecida de todos promoveu em mim mal-estar, incomodou. Dias depois da leitura ainda pensava sobre isso, como acontece com os bons livros, os que nos levam a limar arrestas e a repensar posturas. O incómodo promove mudança.